segunda-feira, 10 de abril de 2017

Não estamos sós


 Eu mudei de país e, de um dia para o outro, de uma casa repleta para um estúdio vazio. Precisava iniciar uma nova relação comigo mesma. Aprender a conviver com o silêncio tão temido. Hoje é o mesmo silêncio que me revela as mais profundas verdades.

 No início tudo era assustador. Os ventos muito fortes que batiam as portas e janelas e uivavam no meio da madrugada não me deixavam dormir. Então aprendi que eram ventos de mudança e, toda vez que tinha um grande conflito interior, estes ventos levavam para bem longe meus receios de mudar. Na verdade, o medo nos paralisa e nos impede que vejamos novos caminhos e oportunidades.

 Tinha medo de sair na varanda à noite por causa dos morcegos, até que um amigo me disse:" São apenas pássaros da noite". Hoje aprecio a brisa no rosto que acalma meus pensamentos, preparando para uma boa noite de descanso, enquanto admiro os pequenos pássaros da noite que se divertem desviando dos obstáculos.

 Pavor de iniciar o dia na estrada, tentando chegar às clínicas mais distantes onde atenderia os doentes. E se ? E se o carro quebrasse? E se a tempestade me apanhasse no meio do caminho? E se eles não me compreendessem? Bem, eu peguei chuva, nevoeiro, neve, ventos de quase virar o carro, galhos de árvore que caíam no caminho, estradas desertas e escuras muito tarde da noite. Mas voltava com a sensação de dever cumprido. Tinha conseguido ajudar pessoas que esperavam muito tempo por uma consulta, uma orientação, alguém que apenas os escutasse e aliviasse suas dúvidas. Por estas estradas conheci muitas estórias nem sempre alegres, mas de força e coragem de viver.

 A incerteza de cantar e soltar a minha voz me acompanhava. Mais uma vez o "E se?" E se fosse aguda ou estridente demais? Ao mesmo tempo sonhava em cantar num coro de natal nos pequenos vilarejos da Alemanha levando sorrisos às casas das pessoas. Não cheguei até lá, mas conheci verdadeiros amigos num coro onde o mestre é mais especial ainda: o Arcanjo Miguel, meu protetor. E quando cantávamos bem perto dos anjos na parte mais elevada da capela, a minha voz não estava mais sozinha. Eu fazia parte daquela linda e doce melodia, ao mesmo tempo forte o suficiente para tocar os corações.

 E a cada dia sentia que fazia parte de um plano maior. E me sentia amada por um amor maior: o amor Divino, Universal. À medida que me sentia ligada ao Universo, percebia a necessidade de cuidar dele. Estamos todos de certa forma interligados como que por cordões invisíveis que nos ligam e ao nosso Criador. É impossível sermos felizes se o outro não está feliz. É certo que se magoamos o outro, magoamos a nós mesmos ainda mais.

 Por outro lado, isto nos dá a certeza de que não estamos sós. Caminhamos lado a lado tentando descobrir nossa missão na vida, nossas motivações. E cada pessoa que encontramos no caminho tem algo a nos ensinar. e os ensinamentos podem ser muito gratificantes. Basta estarmos atentos. Basta abrir os ouvidos do coração.


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