Receitas de uma avó centenária
Quando os pacientes me perguntam como podem melhorar e
prolongar sua saúde eu me lembro sempre da minha avó italiana. A dona Anita
chegou bem e lúcida aos 106 anos de idade. No início como toda mulher vaidosa
escondia sua data de nascimento, após os cem , porém, costumava contar com
orgulho sua idade. Mulher corajosa deixou seu país natal fugida da guerra sozinha
num navio, numa época em que a viagem desconfortável demorava muitos dias.
Trazia todos os seus pertences num baú, mas muito conhecimento passado de
geração para geração dentro de si mesma. Uma força extraordinária dentro
daqueles poucos um metro e quarenta de altura. Uma alegria contagiosa e uma
vontade de ajudar os outros. A fé que nos transmitiu transbordava o seu ser e
respingava na neta que a seguia na fila da comunhão.
Mas a dona Anita tinha seus segredos de beleza. À noite
sempre lavava bem o rosto e aplicava uma mistura de um creme famoso para
assadura de bebê e um creme hidratante do pote azul antigo. Dormia muito bem
suas oito horas e alimentava-se com cuidado com frutas e verduras frescas. Foi
com ela que aprendi a comer fígado bem cozido com muita cebola. Uma iguaria que
muitos devem estar fazendo careta agora ao ler. Tomava seu copo de vinho tinto
e muita tranquilidade à mesa. Só podíamos levantar quando o meu avô terminava
de comer. Conversávamos amenidades e ouvíamos a música “como pode um peixe vivo
viver fora da água fria” na antiga vitrolinha do meu avô. Ao final levantava-se
e dançava um pouco conosco.
Gostava de caminhar
muito e ir ao cinema. Lia o jornal, sabia tudo o que se passava no mundo e não
deixava de fazer as palavras cruzadas. Não sei como vou envelhecer com a cabeça
ativa, não tenho paciência nenhuma de fazer palavras cruzadas, hehe.
Gostava de receber visitas e cultivava os amigos. Fora
professora e muitos alunos antigos a visitavam de tempos em tempos. Sabia os
poemas de Dante Alighieri de cor e ninguém ganhava dela no baralho.
Ah mas nem só de alimentos saudáveis vivia a minha avó. Fazia um Crostoli como ninguém e nele
descobri muita fritura. Eu acho que o
prazer de comê-lo no chá com os amigos compensava a guloseima.
E assim deixo as lembranças da minha avó querida ensinarem
um pouquinho do segredo de se viver mais e melhor.
A melhor homenagem a quem nos serviu de referência é seguir seus exemplos
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