O tempero do mundo
Todos os dias temos demonstrações de pessoas iluminadas
realizando ações que tornam o mundo um pouquinho melhor. Estas pessoas passam despercebidas aos nossos
olhos e ouvidos se não aguçamos os sentidos, se não paramos um minutinho para
prestar atenção durante a correria do nosso dia a dia. De fato, estas pessoas
não viram notícia na rede de televisão mais famosa. Não aparecem nas redes
sociais e não recebem nenhum prêmio. Na verdade o valor está no ato puro e
simples sem qualquer desejo de recompensa.
No feriado de Páscoa a família se reúne e é o momento de
dividir estórias. Meu irmão acabara de se mudar de casa. Um amigo de meu irmão
percebe na vizinha do outro lado da rua, uma mulher solitária, viúva, carente
de atenção. Os outros vizinhos comentam que é uma mulher depressiva e
amargurada, mas ninguém quer mesmo se aproximar e saber seus motivos; ninguém
quer perder tempo com alguém sem nada a oferecer, nem mesmo um sorriso. Este
amigo, porém resolve preparar um almoço especial para ela. Meu irmão é seu
cúmplice e oferece a casa e os alimentos.
Neste momento da estória alguém comenta :” Mas você vai ter
prejuízo se ficar oferecendo almoços para qualquer um”. Não é todo mundo que
percebe que esta vizinha não é qualquer um, é alguém que precisa muito resgatar
a vontade de viver e a esperança nas pessoas. Um simples almoço pode ser o
único momento da vida dela onde alguém lhe doou seu tempo e sua atenção.
Mas voltemos ao almoço. Ela se senta com cuidado, ainda
desconfiada de tanta atenção. Sim, porque quem não está acostumado com carinho
chega a ter medo dele, a pensar que há alguma intenção por trás. Como conheço
este amigo do meu irmão e sei que ele cozinha muito bem e em cada alimento há
um cuidado especial, imagino que o almoço tenha sido inesquecível para a
vizinha solitária. Ela conta sobre sua família que restou que mora muito longe
e sobre a saudade sua companheira diária. A partir deste dia, a vizinha sorri e
cumprimenta meu irmão e o amigo. Trocam conversas e experiências. Ela não está
mais sozinha e a distância do outro lado da rua encurtou.
Eu estava almoçando com a família na casa do meu irmão
quando ele me contou a estória. Ao final do almoço recebi do amigo um sal
marinho especial vindo da África do Sul. Ele sabe que também gosto de cozinhar
e me preocupo em preparar os alimentos de forma saudável. Ele me fala dos
benefícios do tal sal e das variedades de cores e propriedades, dependendo da
área de onde procedem.
Na verdade, ele e meu irmão me entregaram mais do que um
sal. Eles são os verdadeiros “sal do
mundo”, as pessoas que transformam as nossas vidas em momentos saborosos de
convívio humano.
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